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É NECESSÁRIO QUE TODOS ESTEJAM LÁ.
CONCENTRAÇÃO NA IGREJA DO ROSÁRIO, NO PAISSANDU.
DEPOIS AINDA ROLA UM SHOW NA PRAÇA DA SÉ.
DIA 20 É DIA DE MOBILIZAÇÃO.
Pouco depois, com “Casa-Grande e Senzala” e “Raízes do Brasil”, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque davam forma e conteúdo ao Brasil do século 20, e Villa-Lobos conquistava a admiração internacional com a sua linguagem musical moderna e sofisticada – inspirada no choro, no samba e nos nossos ritmos populares.
Assim como Villa trouxe a música popular para a erudita, a sua influência na obra de grandes compositores populares como Tom Jobim, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Milton Nascimento e Guinga, levou a música erudita para a MPB. Tom Jobim cultuava Villa-Lobos como mestre e modelo, como seu pai musical, até no amor ao charuto, e dizia que toda a base harmônica da bossa nova já estava em uma peça de Villa Lobos de 1940. Algumas das melhores músicas de Tom Jobim, como as obras primas “Matita Perê” e “Saudades do Brasil”, homenageiam o grande mestre em algum lugar entre o popular e o erudito. Edu Lobo sempre teve em Villa-Lobos e Tom Jobim as suas maiores referências musicais. Em toda a sua obra ressoam os fraseados e as harmonias de Villa-Lobos, via Tom ou em ligação de lobo para lobo.
No centenário de Villa, dois lindos discos celebram a grandeza e vitalidade de sua música em diferentes leituras. Em um, o baixista americano Bruce Henri, com décadas de bons serviços à nossa música e um pequeno time de grandes músicos, apresenta peças de Villa Lobos em ambientação jazzística sofisticada.
Em outro, o fabuloso violonista e compositor Guinga, o mais villa-lobiano dos pós-jobinianos, une as suas origens suburbanas às inspirações do mestre em um disco de belíssimas canções originais, tão villa-lobianas, que se chama “Casa de Villa”.
Nelson Mota
fonte: Sintonia FinaAqui eu te amo.
Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
Fosforece a lua sobre as águas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-se.
Descinge-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.
As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.
Só.As vezes amanheço, e minha alma está úmida.
Soa, ressoa o mar distante.Isto é um porto.
Aqui eu te amo.
Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.
Já me creio esquecido como estas velha âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta..
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo,
os pinheiros no vento,querem cantar o teu nome,
com suas folhas de cobre.
PABLO NERUDA
Não é preciso ir longe na analogia para entender que nem sempre aquilo que se resolve com extrema rapidez seja o melhor caminho.
Por vezes, é necessário um certo tardar, um certo esperar, um certo aquietar, uma porção de folhas secas sem utilidade. Sem desvarios, sem afobação.
Às vezes a ansiedade e a pressa racham aos poucos a nossa alma, que precisa ser cicatrizada com delicadeza e amor.
Mais horas de sono, de ócio, de abraços sem utilidade, de risadas, de sonhos.
Mais banhos demorados, caminhadas inventadas, menos vidros fechados às pressas nos sinais, menos olhares perdidos, menos empáfia, menos etiqueta nas roupas, menos grife.
Quem sonha não pode ter pressa, porque, para ‘acordar-se pra dentro’, como dizia Quintana, é preciso usar as muitas folhas secas que esse dia nos deixou.