Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu no dia 21
de junho de 1830, em Salvador, filho de Luiza Mahin e de um pai cujo nome
jamais se soube.
A
mãe, negra altiva, insofrida, tem uma história riquíssima. Foi uma das
principais figuras da Revolta dos Malês e participou da Sabinada, em 1837,
quando então foi para o Rio de Janeiro, onde desapareceu.
O
pai, de origem portuguesa, herdara uma grande fortuna. Mas, amante da caça, da
boa vida e dos jogos de azar, acabou reduzido à pobreza. Nesse momento, vendeu
o próprio filho. Tinha então Luís Gama dez anos de idade. Tendo nascido livre,
tornara-se escravo e foi embarcado num navio com diversos escravos
contrabandeados para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Foi
comprado pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, proprietário de uma fazenda no
município paulista de Lorena. Em 1847, o alferes recebeu a visita de um jovem
estudante chamado Antonio Rodrigues do Prado Júnior, que, afeiçoando-se a Luís
Gama, ensinou-o a ler e a escrever. Em 1848, Luís Gama fugiu do cativeiro.
Serviu como soldado durante seis anos. Deu baixa em 1854, após ser preso por
causa de um ato que o próprio Gama chama de “suposta insubordinação” já que,
ele mesmo diz, apenas se limitara a responder a um oficial que o insultara.
Em
1856, volta à Força Pública, como funcionário da Secretaria da Repartição. Em
1859 surge o livro Primeiras Trovas Burlescas do Getulino. Eram poesias
satíricas que ricularizavam a aristocracia e os homens de poder da época. A
primeira edição acabou em três anos.
Luís
Gama inaugurou a imprensa humorística paulistana ao fundar, em 1864, o jornal
Diabo Coxo. Luís não se acomodava. Através da imprensa iniciou sua cruzada
contra o escravismo. Mais tarde, como advogado libertou uma imensidão de
escravos. Sud Mennucci o considera o precursor do abolicionismo no Brasil.
É
de Luís Gama a seguinte frase: “Perante o Direito, é justificável o crime do
escravo perpetrado na pessoa do Senhor”. Lembra Malcom X, só que Malcom
nasceria muito tempo depois. Autodidata, Luís Gama tornou-se advogado
respeitado graças à eloquência sem par e ao raciocínio arguto. Rui Barbosa
disse dele o seguinte:”Um coração de anjo, um espírito genial, uma torrente de
eloquência, de dialética e de graça”.
Em
sua casa dispunha sempre de uma caixa com moedas que dava aos negros em
dificuldades que vinham procurá-lo. Era conhecido como o “amigo de todos”. Esse
seu lado caridoso, no entanto, fazia par com o ódio que nutria contra qualquer
forma de opressão.
Influenciador
de Raul Pompéia, Alberto Torres e Américo de Campos, venerável de loja
maçônica, Luís Gama morreu sem ver concretizado seu sonho de Abolição.
Acometido de diabete, decaiu fisicamente com extrema velocidade. Faleceu em 24
de agosto de 1882 e foi enterrado no dia 25.
O
seu enterro foi um fato memorável. O cortejo saiu do Brás às 15h do dia 25 e
fez, a pé, o percurso até o Cemitério da Consolação, seguido por uma multidão.
Parava-se de vez em quando para que os oradores fizessem discursos. Os
aristocratas e burgueses tiravam o chapéu à passagem do cortejo. No fim da
tarde, chegaram ao destino. Na hora de baixar o caixão à cova, ocorreu uma cena
emocionante. Um homem (talvez Antonio Bento) ergueu a voz. Quem relata é Raul
Pompéia: “a voz soluçava-lhe na garganta. Disse duas palavras, sem retórica, a
respeito do homem que ali jazia caído… Lembrou aos presentes que aquele fora
Luís Gama… A multidão chorou. Então, o orador reforçou a voz, reforçou o gesto,
e intimou a multidão a jurar sobre o cadáver, que não deixaria morrer a ideia
pela qual combatera aquele gigante. Um brado surdo, imponente, vasto,
levantou-se no cemitério. As mãos estenderam-se abertas para o cadáver… A
multidão jurou”. Então, os coveiros desceram o esquife para a sepultura.
Ref.: Silva, J Romão. Luiz Gama e saus Poesias Satíricas. Rio de
Janeiro: Ed. Casa do Estudante do Brasil.
Consulte também a reedição de Primeiras Trovas Burlescas e Outros Poemas, livro organizado por Lígia Ferreira e
editado pela Martins Fontes em 2000.
Fonte: blog quilombhoje